Cicloviajar, pra mim, é um jeito de sentir o mundo com mais intensidade. É pedalar por fora e por dentro, atravessar paisagens e silêncios, deixar-se tocar pelas histórias que moram nas esquinas do caminho. Mas também é saber a hora de parar, respirar fundo e apenas estar — inteira — num lugar.
Foi com esse espírito que escolhemos dois passeios especiais para encerrar nossa jornada pela Rota do Descobrimento: uma visita à aldeia Pataxó, em Coroa Vermelha, e um mergulho no tempo no Museu da Epopeia do Descobrimento, em Porto Seguro.
Chegamos à aldeia de Uber, numa manhã nublada. Logo fomos recebidos com uma apresentação simples, mas cheia de presença: danças, cantos e sorrisos que carregam séculos de resistência. Me chamou atenção o quanto essa riqueza cultural às vezes vem embrulhada em silêncio. Talvez por timidez, talvez por falta de costume em transformar vivência em discurso.
Foi aí que me senti impulsionada a escrever. Não pra falar por eles — mas pra ecoar o que vi e senti. Os Pataxó vivem neste pedaço de terra muito antes da chegada dos europeus. Enfrentaram expulsões, apagamentos e ainda hoje seguem lutando por seus direitos e territórios. Mesmo assim, ali estavam: com seus grafismos, sua língua Patxohã sendo resgatada, suas crianças em aula na escolinha da comunidade, suas tradições firmes como raízes que insistem em brotar.
Durante a visita, uma menina se aproximou com delicadeza e me ofereceu uma pintura facial. Aceitei sem pensar. Depois, me vesti com trajes da cultura Pataxó (R$10 a foto) e me senti, mesmo que por um instante breve, parte daquela narrativa que pulsa sem pressa, mas com força.
A aldeia não tem grandes atrações turísticas — e talvez nem precise. O valor ali está na escuta, no olhar atento, na troca silenciosa. Saí de lá tocada. Nem tudo precisa ser dito para ser compreendido.
Seguimos depois até o Museu da Epopeia do Descobrimento. O espaço traz uma visão panorâmica das grandes navegações e do impacto da chegada dos portugueses ao litoral sul da Bahia. Entre mapas, réplicas, documentos e uma caravela em tamanho real, o museu ajuda a entender o contexto do “descobrimento” — esse encontro complexo entre mundos tão diferentes.
Inspirado na obra Os Lusíadas, de Camões, o museu apresenta a saga dos navegadores portugueses de forma organizada e acessível. Não é um lugar de respostas prontas, mas de provocações históricas. Quem quiser se encantar, aprende. Quem quiser questionar, também tem espaço pra isso.
De lá, partimos para o almoço no restaurante Sabor do Porto, ali mesmo na Passarela do Álcool. E que surpresa boa! Ambiente gostoso, pratos bem servidos, preços justos e aquele clima alegre que é a cara de Porto Seguro. Foi um momento leve, saboroso e acolhedor.
À tarde, cruzamos para Arraial d'Ajuda para a nossa despedida oficial do mar.
Queríamos algo simples: só o som das ondas, o toque da areia, o sol se despedindo atrás do horizonte. E tivemos tudo isso. Um fim de viagem digno de um suspiro longo — daqueles que vêm com gratidão.
Encerrar essa jornada é como fechar um livro cujas páginas ainda ecoam dentro da gente. Cada lugar, cada pessoa, cada gesto — tudo se costura na memória com fios invisíveis e duradouros.
Mais do que trilhar estradas, estive pedalando nas palavras. Transformando sentimentos em texto, registros em sentido. Essa viagem foi corpo em movimento, mas também alma em escuta.
Espero que, ao ler estas linhas, você sinta um pouco do que vivi. Que se inspire a viajar com mais sensibilidade, a olhar com mais respeito, a ouvir com mais calma. Porque o verdadeiro descobrimento — seja aqui, ali ou dentro de nós — acontece quando deixamos de apenas passar e passamos a pertencer.
Até a próxima aventura! 🚴♀️✨
Gastos:
R$ 40,00 Fotos
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