O sol nasceu tímido naquele último dia, como se soubesse que era hora de se despedir. O destino era claro: deixar Trancoso para trás, tocar Arraial d'Ajuda e, enfim, chegar a Porto Seguro, não apenas com os pés, mas com a alma carregada de histórias!
Meu pé, fiel companheiro de jornada, amanheceu inchado. Mas, curiosamente, doía menos quando pedalava — como se a dor soubesse respeitar a vontade de seguir em frente. E eu queria e precisava seguir.
Tomamos nosso café da manhã, como nos outros dias, simples mas cheio de afeto! Repeti a tapioca baiana, leve e forte e deliciosa como essa terra, e depois rumamos por uma rua paralela à praia, com um desejo: ver a Praça do Quadrado, com suas casas de alma colorida.
- Data: 16/06/2025
- Tábua das Marés: 13h06 - 0,56m
- Distância: 27 km
- Dificuldade: Fácil
A vila ainda conserva o charme que atraiu os hippies na década de 70. Mas sua história começa bem antes disso — foi uma aldeia jesuíta fundada no século XVI. Na conhecida Praça do Quadrado, estão as primeiras construções do povoado, como a Igreja de São João, construída pelos jesuítas em 1656, e as casas coloniais feitas pelos missionários portugueses, que continuam preservadas. Hoje, elas têm novas funções: abrigam bares, pousadas e restaurantes, cercados por árvores de cacau, tamarindo, jambo e jaca.
A praça estava tranquila, com a igreja branca no centro, marcando a história do lugar. Logo atrás dela, a vista para o mar era impressionante — o tipo de paisagem que faz a gente parar e simplesmente admirar.
Ficamos ali por alguns minutos, aproveitando o momento e a beleza do lugar. Depois, voltamos a pedalar, sentindo o cansaço no corpo, mas também aquela sensação boa de estar vivendo algo que vai ficar guardado para sempre na memória.
A maré baixa estava prevista apenas para mais tarde naquele dia. Por isso, decidimos seguir por estradas alternativas em vez de pedalar pela praia, como havíamos feito antes. Foi bom fazer algo diferente e sair um pouco da rotina dos outros dias.
Depois de alguns quilômetros, usando o aplicativo wikiloc, encontrei uma trilha que, em teoria, nos levaria de volta à praia. No entanto, havia uma placa de "entrada proibida" no início do caminho. Mesmo assim, resolvemos arriscar e seguir por ali, com um pouco de receio, mas também curiosidade. A estrada era bonita e logo virou uma trilha estreita, cercada pela vegetação.
Chegamos muito perto do mar, dava para sentir o cheiro da água e ouvir as ondas. Mas havia o rio Trancoso no caminho, e como a maré ainda estava alta, não conseguimos atravessar.
Tivemos que voltar, subindo de novo por um trecho mais íngreme, com meu pé machucado, essa parte foi especialmente difícil. Quando retomamos a estrada principal, continuamos enfrentando subidas e descidas, até que finalmente vimos placas indicando que estávamos chegando em Arraial d'Ajuda.
Arraial d'Ajuda é um povoado fundado pelos jesuítas em 1549. Naquela época, era uma espécie de ponto de partida para a catequização dos índios da região. Hoje, é conhecido pela agitada vida noturna ao som de forró, lambada e axé.
A partir dali, conseguimos ganhar velocidade, e logo voltamos à praia.
Seguimos pedalando com força total, com a adrenalina lá em cima. A reta final estava diante de nós, e passar pelas praias de Arraial da Ajuda foi eletrizante. A paisagem era incrível, e o coração batia acelerado — a cada quilômetro, a sensação de que estávamos chegando aumentava.
Logo avistamos a balsa. A travessia foi rápida, mas carregada de significado. Era mais do que atravessar um rio — era cruzar a linha entre o desafio e a conquista.
Do outro lado, Porto Seguro nos recebia com festa e bandeirolas coloridas. Tudo pulsava energia, e parecia que a cidade inteira sabia o que aquilo significava pra gente.
E então veio o momento que não dá pra esquecer: Voltamos a pedalar pela orla e, de repente, caiu a ficha: a gente conseguiu!
Foram cinco dias intensos, cheios de superação, calor, subidas, quedas… e um tornozelo machucado que não me impediu de chegar. Tudo valeu. Cada pedalada. A emoção bateu forte. Um mix de alívio, orgulho e pura felicidade. A Cicloviagem Rota do Descobrimento tinha sido mais do que uma aventura — foi uma vitória pessoal, uma experiência marcante, que ficou registrada no corpo e na memória.
Pra fechar com chave de ouro, paramos no restaurante onde tínhamos comido no início da viagem. Um jeito simples, mas especial, de comemorar. Sorrisos largos, olhares cheios de significado, e a certeza de que fizemos algo grande.
Gastos:
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